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sábado, 8 de março de 2014

"Introdução à Teoria da Ciência" - Teoria da Confirmação


O primeiro dever de casa

Meu mestrado começa dia 10. É logo logo, segunda-feira!

Mas já tive meu primeiro "dever de casa" ontem. Foi mandado pelo Moodle, pelo professor Richard, de "Fundamentos de Pesquisa Científica". Ele pediu via Moodle (ambiente virtual de ensino), para lermos um texto de 9 páginas chamado "Teoria da Confirmação". Esse é parte de um livro chamado "Introdução a Teoria da Ciência" (de Luiz Henrique Dutra, EDUFSC, 1998).



"EGR 8005000 - Fundamentos da Pesquisa Científica"

Antes de mais nada penso que uma disciplina como essa é fundamental pro Mestrado, visto que o Mestre é fundamentalmente uma pessoa apta a realizar pesquisas, criar conhecimento com seus próprios recursos. E no caso, conhecimento científico. Falta muito ao designer a prática da pesquisa científica. Donald Norman vez por outra comenta como o Design ainda é pouco científico...

O designer precisa se familiarizar com esse tipo específico de conhecimento chamado "Ciência". Precisa saber o que significar fazer algo science-based.

Falemos um pouco desse livro..



"Teorias da Confirmação"

Rudolf Carnap
1) Quando um enunciado é científico?

O texto é sobre um conceito de Carnap, partidário do Positivismo Lógico, sobre a natureza do conhecimento científico. Bastante influenciado pela Filosofia Analítica, Carnap postula que saberemos se um conhecimento é uma busca científica pela verdade se ele produz enunciados que têm:

a) vocabulário rico e enxuto

b) consistência gramatical, ou seja, regras bem postuladas

c)  significado coerente, lógico

d)  possibilidade de ser confirmado 



2) Ciência como conhecimento confiável

Ciência é aquilo, diz Carnap, que pode ser confirmado e se tornar conhecimento especialmente confiável. Isso porque seus enunciados são confirmados por evidências naturais, como observações ou experimentos.

Outras formas de conhecimento são menos rigorosas, ou francamente subjetivas, de valor apenas pessoal. Com Ciência não é assim, porque as evidências são de testemunho e compreensão de todos. Em tese. Nem todo design science-based é melhor só por causa disso...

Mas essa história de que Ciência chega ao certo, à verdade, tem problemas lógicos. A seguir, um dos maiores deles.



3) O Problema da Indução

Postulado por Hume no século XVIII, o chamado de "Problema da Indução". Se trata do fato de que as teorias científicas criam conceitos, leis para explicar e prever fenômenos gerais, mas partindo de uma série de casos específicos, gerando uma indução necessária que pode ser vista como generalização impossível de ser comprovada. 

Por exemplo, se postulo que a matéria se comporta assim e assado em toda parte do Universo dificilmente poderei provar minha tese porque seria necessário executar experimentos em toda parte de um espaço infinito. Por isso a Ciência confia, por indução, que suas teorias estão corretas mesmo não conseguindo jamais prová-las por completo. 

Transpondo por Design: não é porque certas teorias funcionaram pra embasar um projeto que esse design dará certo em quaisquer circunstâncias!




4) Rejeição à Metafísica

Outra coisa que Carnap propõe é que por conhecimento científico deveriam ficar apenas enunciados que satisfazem aqueles quatro critérios expostos no item 1 deste post. E que por isso se rejeite explicações generalistas, metafísicas, que são impossíveis de serem verificadas. 

Dizer: "A matéria é como é porque é um atributo do Ser" é pura Metafísica, e não um enunciado científico, pois um "atributo do Ser" não pode ser verificado, checado, confirmado. No caso do Design, equivale a rejeitar explicações como "Resolvi fazer o projeto assim pelo meu feeling de designer mesmo", ou "A criatividade do designer vem do coração, é inexplicável".

O que importa, para os positivistas lógicos, é partir de definições ostensivas, detalhistas e claras, baseadas em indicadores naturais. É daí que se constrói conhecimento científico, pois daí se pode aplicar lógica e matemática para tomar decisões sobre a validade de enunciados, leis, conceitos, etc.

Carnap é um fisicalista: para ele as ciências se baseiam e no final das contas se resumem a uma Física (evidências naturais, dispostas no tempo e no espaço).


5) Como confirmar um enunciado?

No final da carreira Carnap mudou um pouco de ideia. Passou a entender que os enunciados não são confirmáveis ou não-confirmáveis, mas possuem graus de confirmação. Em termos de probabilidade indutiva seria necessário estipular uma medida para o quão confirmável é um enunciado, e comparar essa medida com a de outros enunciados.  Mais importante que discussões epistemológicas seriam métodos para estabelecer a seleção de confirmações. 

O texto fecha citando Karl Popper, mas sem explicar que ele substitui a regra da confirmação pela da falseabilidade, hoje considerada mais usual. Para Popper os enunciados científicos não são confirmáveis por nenhum experimento, mas são falseáveis. Em outras palavras, nunca é possível saber se uma teoria científica está realmente certa como pensamos, mas deve ser sempre necessário ter critérios para descobrir se ela é falsa.


A Ciência ajudaria a criar um melhor Design  mesmo? 


6) Reflexões minhas

Esse texto me lembrou o que Donald Norman fala sobre o Design precisar ser mais científico, baseado em evidências, experimentos.  Mas há quem diga que isso pode gerar problemas, burocratizar, tirar a criatividade artística do designer, etc, etc, etc.

O fato é que nem todo projeto será melhor apenas por ser baseado em conhecimentos científicos. O valor da Ciência está em construir conhecimentos embasados em evidências, que podem ser replicados, analisados, melhorados por pares, dentre outras qualidades. Mas a Ciência não é uma panaceia. Pode ser que um design científico tenha pouca criatividade, ou elegância, ou mesmo bom senso.

Se designers precisam fazer pesquisa científica, em tese porque isso tornará seus conhecimentos mais confiáveis, então inevitavelmente surgirá de fato questões como: "E de que maneira saberemos que nossas pesquisas geram designs melhores de fato?", "Como confirmaremos a confiabilidade de um conhecimento científico em Design?", "Fazer Ciência gera mesmo um Design melhor ou outros gêneros de conhecimento são preferíveis?".



sábado, 1 de março de 2014

Meu artigo para o Congresso P&D Design 2014



Em setembro vai rolar o P&D Design 2014.


Estou escrevendo dois artigos para o evento. Sobre um eu já falei aqui


Hoje é o dia de apresentar, orgulhosamente, o resumo do segundo (que estou escrevendo junto com o Luciano Lobato).


O título é bem sugestivo:


DESIGN E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO: INTERSECÇÕES E POSSIBILIDADES


Resumo: A pesquisa & desenvolvimento em Design vem ganhando volume. Cada vez mais se fala em Design Research, práticas user-centered e evidence-based. Contudo trabalhos pioneiros da área vindos das Ciências Comportamentais são ignorados tanto por designers quanto por psicólogos e outros estudiosos do comportamento. Visando sanar esse quadro,  presente artigo apresentará uma revisão histórica e conceitual das contribuições dos Analistas do Comportamento na área da pesquisa pura e aplicada ao Design. Tal perspectiva evidencia a existência de uma abordagem comportamental à Pesquisa em Design. Tal abordagem por vezes foi chamada de “programação de contingências”,  “Engenharia comportamental” e “Design de Cultura”. Este artigo conclui propondo o aprimoramento de uma metodologia  analítico-comportamental atual para fundamentar práticas em Pesquisa em Design.


Palavras-chave: Design; Pesquisa Aplicada; Evidence Based; User Centered Design; Análise do Comportamento